Com novas tecnologias, indústria da saúde avança

Publicado em 16/01/2019
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De pesquisas em diagnóstico a big data, o setor demanda cada vez mais soluções para melhorar qualidade de vida e pôr fim à lógica que valoriza o volume de atendimentos

Instalações da Novartis: laboratórios buscam não só inovar no desenvolvimento de produtos e serviços, mas também tornar a produção mais eficiente(foto: Jason Arthurs/AFP 24/11/09)

São Paulo – Os investimentos em inovação na área da saúde têm ocorrido em velocidade cada vez maior e em diferentes frentes. Operadoras de planos de saúde buscam formas de reduzir as despesas e melhorar a eficiência dos tratamentos. Grandes fabricantes de equipamentos apostam em novas tecnologias para melhorar os diagnósticos, inclusive as empresas de tecnologia.

 

É o caso da Apple, que, em dezembro, anunciou o início do funcionamento do recurso de eletrocardiograma do modelo apple Watch series 4. O equipamento permite ao usuário acompanhar o comportamento do coração, medindo os batimentos durante as atividades físicas e com a possibilidade de detectar arritmia cardíaca. Nesse caso, avisos são emitidos para que o usuário, dono do relógio, vá ao médico.

Hospitais e laboratórios de análises clínicas pegam carona nesse movimento com o objetivo de tornar suas operações mais eficientes. Há também as heath techs – startups do setor de saúde –, que têm conseguido avanços e chamado a atenção de grandes grupos.



"Com o aumento do uso da tecnologia digital e de dados, será possível identificar de forma mais assertiva o melhor caminho para o paciente e qual será o tratamento mais eficaz"

Luiza Mattos, sócia da Bain & Company

 

Apesar da universalização da saúde pública, prevista na Constituição, o Brasil também tem conseguido acompanhar essa tendência, o que é visto tanto nos grandes grupos quanto nas startups. A Tismoo, que atua na área de biotecnologia, trabalha em duas frentes. Uma é a que oferece serviços de sequenciamentos genéticos variados e medicina personalizada com foco nos transtornos neurológicos relacionados ao autismo. Com um laboratório na Universidade da Califórnia e outro em São Paulo, a health tech oferece testes para diagnosticar os diferentes tipos de autismo, além de outras síndromes neurológicas.

Parte das pesquisas genéticas ocorre a partir de uma “fazenda de minicérebros” – a Tismoo recria em laboratório as etapas do desenvolvimento neural a partir de células do próprio paciente. Nesse processo, uma célula é transformada em célula-tronco da estrutura cerebral, possibilitando testar medicamentos para os diferentes tipos de doenças e fazer ajustes de doses de medicamentos.

Aproximação 

A Tismoo é uma das cerca de 250 health techs que atuam no Brasi. Muitas são encabeçadas por pesquisadores ligados a universidades. Para os grandes grupos, a aproximação com essas startups é uma forma de trazer novas tecnologias para dentro de casa. É o caso da gigante farmacêutica Roche, que há cerca de um ano pagou US$ 1,9 bilhão pela americana Flatiron Health, especializada na coleta de dados clínicos de pacientes com câncer.

Sócia da Bain & Company, Luiza Mattos analisa que a área da saúde vem sendo muito impactada por novas tecnologias digitais nos últimos anos. A mudança de comportamento já vem trazendo ganhos para as empresas e para os usuários. As possibilidades, acredita a especialista, são muito grandes. Ela dá como exemplo o uso da Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) para aumentar a aderência a tratamentos de saúde, por meio do monitoramento remoto do paciente.

“As novas tecnologias vão permitir cada vez mais o engajamento físico e digital do paciente, seja por meio da análise de dados ou do monitoramento da sua jornada. Isso é fundamental quando falamos de desperdício de recursos”, explica Luiza.

Com esse tipo de investimento tecnológico, ela acredita que os prestadores de serviço e os gestores poderão ter uma atuação mais eficiente sob o aspecto financeiro e melhorar os cuidados com seus pacientes. “Com o aumento do uso da tecnologia digital e de dados, será possível identificar de forma mais assertiva o melhor caminho para o paciente e qual será o tratamento mais eficaz”, defende.

Inovação em ciclos curtos

Na corrida por soluções para a saúde, os ciclos de inovação deverão ser cada vez mais curtos – o desenvolvimento, o aprendizado e os ajustes ocorreram quase que simultaneamente, como destaca a . sócia da Bain & Company.


“Muitas inovações dependem de tempo para ter seu desempenho econômico percebido. O importante é que as empresas e o governo tentem identificar nesse processo quais são os indicadores de sucesso trazidos pela inovação tecnológica, como os benefícios para a operação e para o cliente, isso tanto na saúde privada quanto na saúde pública”, diz a sócia da Bain & Company.

Luiza destaca que nesse processo de avanço tecnológico na saúde, o consumidor terá papel muito importante – o do uso racional dos recursos dessa área. Hospitais, laboratórios e operadoras de planos de saúde têm buscado usar ferramentas tecnológicas e relacionamento com o cliente para mapear a forma como seus serviços são utilizados. Há uma queixa antiga do setor quanto à ida desnecessária aos consultórios, pronto-socorro e laboratórios.

"Vamos desde o prontuário eletrônico ao uso de robôs. Vivemos uma revolução digital. Nesse setor, a complexidade é um pouco maior, porque lidamos com a saúde das pessoas"

Vladimir Pizzo, gerente de informática clínica do Hospital Sírio-Libanês


Essa transição de modelo na área, explica Leonardo Giusti, sócio e líder de healthcare e life science da KPMG passa também por um ponto fundamental no setor: a mudança da remuneração por volume de serviço prestado pelo benefício levado ao cliente, ou seja, a eficácia no atendimento.

Envelhecimento 

“A população vem envelhecendo e o aumento do custo em saúde será inevitável. Por isso, é importante trabalhar cada vez mais com Big Data, contar com a ajuda da tecnologia para ter mais acerto no diagnóstico, além de fazer uma gestão da jornada de saúde dentro das empresas”, afirma Leonardo Giusti.

Contudo, para chegar ao modelo ideal na área da saúde será preciso seguir por um longo caminho. Um dos pontos fundamentais dessa transformação é a digitalização dos dados dos pacientes, concentrados em um cadastro único, na nuvem.

O uso de cloud computing também será cada vez maior para o armazenamento de dados que poderão servir como um grande banco de dados, um Big Data, para traçar padrões e melhorar os diagnósticos. Laboratórios, como a Dasa, já estão fazendo grandes investimentos nesse tipo de solução e vêm conseguindo melhorar os resultados da operação, com o processamento mais rápido de amostras.

Outro desafio será o aumento do alcance da telemedicina, que permite reduzir os custos de atendimento, aumentar o número de pacientes tratado e a eficiência no diagnóstico, que pode ser feito à distância por especialistas.

Giusti lembra que esse novo momento do setor tem levado algumas empresas a buscarem especialistas para gerir a operação e os custos na área de saúde. Hospitais como o Sírio-Libanês, de São Paulo, passaram a oferecer esse serviço. Com a ajuda de tecnologia, conseguiu administrar o uso dos serviços médico-hospitalares e saber como encontrar formas de melhorar a saúde dos funcionários e a saúde financeira do negócio.

“Hoje vamos desde o prontuário eletrônico ao uso de robôs. Vivemos uma revolução digital. Nesse setor, a complexidade é um pouco maior, porque lidamos com a saúde das pessoas”, diz Vladimir Pizzo, gerente de informática clínica do Hospital Sírio-Libanês.

“Não há dúvida de que essa é uma indústria altamente impactada pelas novas tecnologias. A inovação é o caminho para que as empresas se tornem cada vez mais competitivas. Os ganhos ainda são marginais, mas crescerão a medida que a integração de soluções avançar”, afirma Eliane Kihara, especialista em saúde da PwC. 
 
FONTE
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