Publicado em 17/12/18 às 05:00

Empresas do setor farmacêutico mantêm investimentos em inovação no País e avaliam positivamente o potencial do mercado brasileiro. Porém, consideram que o ambiente ainda é pouco competitivo para o desenvolvimento de novos produtos.

“Quando se desenvolve pesquisa e inovação, é preciso remunerar esse investimento no longo prazo e, no País, há um controle muito forte por parte do governo sobre o preço do medicamento. Isso traz uma insegurança para garantir o preço adequado para o produto e fazer novos aportes”, conta o presidente da Ferring Brasil, Alexandre Seraphim.

No final de novembro, a empresa biofarmacêutica inaugurou em São Paulo seu primeiro centro de inovação no hemisfério sul. O laboratório faz parte de um pacote de investimentos no País que totalizará R$ 25 milhões até 2019. “A Ferring tem 25 anos de Brasil e a intenção de ter um centro de inovação era antiga. Faz parte do conceito de descentralização da companhia”, explica o executivo. “Queremos desenvolver produtos com cientistas locais e com características para o mercado brasileiro.”

Seraphim acredita que o País tem uma base científica bastante desenvolvida. “Há bons profissionais e universidades. A medicina é muito desenvolvida e há muita qualidade na pesquisa clínica. Essas são as condições mais importantes para a área.”

Ele garante que os planos de desenvolvimento da empresa no Brasil são de longo prazo. “Desenvolver novas drogas leva de 7 a 10 anos, do laboratório até chegar ao mercado. Esse investimento demonstra nosso compromisso com o País. A empresa sabe que o Brasil é um local estratégico.”

O diretor de relações governamentais e comunicação corporativa da Novartis, João Sanches, conta que a empresa planeja investir R$ 1 bilhão em estudos clínicos no Brasil até 2022. “Temos um grupo bastante grande na área de pesquisa. Fazemos estudos em universidades do País. Mas daria para atrair ainda mais investimentos se o ambiente regulatório fosse mais competitivo.” Ele destaca que há necessidade de mais agilidade na regulação. “Existe a ideia de que aprovar mais rapidamente significa fazer pesquisas com humanos. Isso não existe, no resto do mundo é assim.” O executivo também conta que há uma obrigatoriedade de fornecer medicação de maneira vitalícia para o paciente participante do estudo. “Isso é um fator limitante, torna o custo da pesquisa muito alto. A partir do momento que o produto começa a ser comercializado, o custo aumenta.” Sanches classifica essas dificuldades como um desincentivo para a ciência. “Por isso algumas empresas abandonaram o campo. Mas nós seguimos tentando.”

Avaliação e expectativa

Seraphim afirma que o ano da Ferring foi positivo, apesar das dificuldades econômicas do País. “Nós temos crescido acima de 10% nos últimos três anos em todas as especialidades. Em 2018 crescemos 20%.”

Ele diz que a empresa está otimista para 2019. “Atuamos no setor público e privado e tivemos bons resultados na crise e investimentos em ciência. Acreditamos no Brasil.”

Sanches também aponta um bom ano para a Novartis. “Crescemos o mesmo que o mercado, por volta de 10%. Considerando a situação econômica, 2018 foi muito bom.”

Ele avalia que o desempenho foi puxado pela introdução de novos produtos e revisão de alguns negócios. “As especialidades de destaque foram produtos para tratamento de artrite, psoríase, cardiovascular e alguns lançamentos de oncologia.” A empresa também tem perspectivas positivas para o próximo ano. “Vamos lançar vários produtos, entre eles um novo medicamento biológico para a prevenção de enxaqueca. Também iremos lançar duas a três moléculas de oncologia.”

Sanches revela que o maior desafio da empresa para os próximos anos será se preparar para todos os volumes que serão lançados. “São muitos produtos, é preciso consolidar rapidamente a posição da marca. Mas nossa expectativa é bastante boa.” Ele também revela que a empresa deve ter por volta de 50 medicamentos nos próximos cinco anos.

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