Médicos alertam para importância do diagnóstico precoce de câncer de próstata e diabetes

Publicado em 28/11/2016
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Doenças silenciosas

Setenta e duas horas separam o Dia Mundial do Diabetes, em 14 de novembro, da data Internacional de Combate ao Câncer de Próstata, no dia 17. Além de dividirem o mesmo mês, conhecido como Novembro Azul, as duas doenças deixam especialistas em alerta pelo grande número de ocorrências e pelo fato de, em boa parte dos casos, elas serem silenciosas, prejudicando o diagnóstico e atrasando o tratamento. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil terá em 2017 pelo menos 61.200 novos casos de câncer de próstata. E a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou um relatório que mostra que 16 milhões de brasileiros adultos têm diabetes.

A prevenção, o diagnóstico e o tratamento das duas enfermidades foram discutidos na última edição do Encontros O GLOBO Saúde e BemEstar, quarta-feira, no Museu do Meio Ambiente, no Jardim Botânico. O evento teve mediação da jornalista do GLOBO Clarissa Pains e coordenação do médico Claudio Domênico.

— As duas doenças têm muitas coisas em comum: muitas vezes são assintomáticas, e por isso os pacientes não procuram o médico, sendo diagnosticados com o câncer de próstata já avançado, ou com diabetes com complicações — explicou o cardiologista Claudio Domênico.

Segundo tipo de câncer mais comum entre os homens, o tumor de próstata corresponde a 6% de todas as mortes pela doença no mundo. Em sua fase inicial não apresenta sintomas, e quando passa a apresentá-los são sinais leves como dificuldade de urinar. Essa característica, atrelada à aversão de muitos homens em relação ao exame do toque retal — utilizado para identificar a presença de tumores na próstata — faz com que parte dos pacientes demore a descobrir a doença, que quando detectada a tempo, tem grandes chances de cura.

— O tumor de próstata é um dos poucos que o doente fica bem e sabe que está curado porque há um exame específico, que é o PSA — conta o urologista Paulo Rodrigues.

TESTE GENÉTICO AJUDA A AVALIAR RISCOS

Além do exame Antígeno Prostático Específico (PSA, substância produzida pelas células da glândula prostática que pode ser detectada no sangue para medir a alteração da próstata) e do toque retal, os exames de imagem e a biópsia também auxiliam na detecção da doença e fornecem informações sobre o grau em que ela está. De acordo com o urologista, o dado é fundamental para analisar a situação específica de cada paciente e propor a melhor estratégia para combater a doença, incluindo a ausência de tratamento, dependendo do tipo de câncer.

— Quando sugerimos não tratar e somente acompanhar o tumor, a estratégia é não agredir o paciente que tem uma doença que não é mortal nem vai trazer problemas, e assim não tem por que oferecer um tratamento como cirurgia ou radioterapia — avalia Rodrigues.

O pai de Jacqueline Anger está justamente na fase de analisar prós e contras do tratamento. Fernando Anger tem 76 anos e foi diagnosticado com câncer de próstata recentemente. Para ter mais segurança, a família decidiu fazer um exame recente no mercado, chamado “Oncotype DX”. A análise custa em média R$ 15 mil e indica ao médico se o tumor tem maior ou menor risco de progressão, o que auxilia na hora de decidir pelo melhor tratamento. A análise é feita a partir de uma lâmina da biópsia do tumor do paciente que é enviada para análise nos Estados Unidos, onde o laboratório estuda 17 genes e avalia o risco de recorrência do câncer e o benefício de tratamentos agressivos.

— O médico disse que seria interessante fazer o exame para ter uma ideia sobre o tipo de câncer e como ele estava se manifestando. Senti que o fato de fazer o exame também deu confiança ao meu pai. Ele ficou mais animado, achou que estava sendo mais bem analisado. Já foi positivo nesse sentido — disse Jacqueline, que acompanha todos os passos do tratamento do pai.

Médico de Fernando, o oncologista Fábio Schutz, da Beneficência Portuguesa, explica que o exame é positivo, sobretudo para pacientes que têm grau intermediário e leve de câncer de próstata:

— Esse exame não é indicado para pacientes com alto risco, que já têm indicação de tratamento ativo. Mas ajuda no caso de pacientes com dúvidas sobre o tipo de tratamento. Quando o exame mostra que a doença é de baixo risco nos dá mais segurança para optar apenas por uma observação vigilante do paciente — diz.

MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

Embora tenha um diagnóstico mais fácil, grande parte das vezes o diabetes também não é tratado desde o início devido à falta de sintomas — que, quando ocorrem, incluem principalmente sede excessiva e aumento na necessidade de urinar. Dependendo do nível, a doença poder ser combatida apenas com dieta e remédios, mas a falta de tratamento podem conduzir a quadros complexos.

— O diagnóstico precoce é fundamental, porque a partir disso é possível colocar em prática medidas de modificação de comportamento do paciente e administrar remédios para manter esse nível de glicose dentro do normal, impedindo o aparecimento de complicações secundárias como lesão nos olhos, dos rins e infarto — explicou o endocrinologista Leão Zagury.

Os números relacionados à doença assustam. Por ano, o diabetes mata cerca de 72 mil pessoas com mais de 30 anos no Brasil. A taxa de obesidade da população também contribui para o agravamento do quadro. De acordo com estatísticas da OMS, 54,2% dos brasileiros são afetados pelo excesso de peso e 20,1% pela obesidade. No mundo, cerca de 422 milhões de pessoas sofrem com a doença, que atinge principalmente os países mais pobres.

— Antigamente o diagnóstico só era considerado quando a pessoa tinha 140 (mg/dl) de glicose; hoje quando tem 126 já consideramos diabético, e se tem acima de 100 já achamos que ele deve se tratar como se fosse diabético. O grande vilão do diabetes é a obesidade: quanto mais tempo ela permanece obesa, mais ela tem chance de desenvolver a doença. Quando tratados adequadamente, os pacientes vivem muito bem — afirmou Zagury.

 

Fonte: O Globo

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