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Sim, você leu certo. Recusar. Uma. Promoção. Mas por que alguém como você, que trabalha duro para crescer na empresa, mudar o status no cartão de visitas e/ou na carteira de trabalho, que se esforça para ter mais benefícios e, claro, receber um salário mais polpudo no fim do mês, recusaria ser promovido?

Logo você, que trabalha sete dias por semana (não esqueçamos da sua cabeça que não para aos sábados e domingos), montando relatórios, correndo atrás de metas, engolindo sapos e acatando ordens de chefes que, muitas vezes, estão ali mais para atrapalhar do que para ajudar?

Sim, amiga e amigo, recusar também é preciso.

Se você já ouviu o chavão que diz que “falar não aos outros é falar sim para nós mesmos”, saiba que ele está certo. Galgar alguns degraus na hierarquia da empresa e engordar alguns reais nosso salário, mais do que um gesto de gratidão ou símbolo de assertividade, pode ser a implosão de nossa paz de espírito ou um tiro de misericórdia na carreira.

Lembro-me com clareza de um caso que aconteceu comigo, em 2005, quando fui chamado para comandar uma equipe de profissionais sêniors e altamente competitivos. Para piorar, era uma seara que eu desconhecia. Ao meu favor, contavam os bons serviços prestados à empresa, dedicação e um ótimo relacionamento interpessoal no grupo. Foi pouco.

Em um mês, a tranquilidade tinha desaparecido e o outrora profissional respeitado, com anos de mercado e de empresa, e bem quisto pela chefia tornou-se um rapaz perdido e despreparado.

Onde errei? Aceitei ser promovido.

Ambicioso e imaturo, negligenciei meu julgamento e paguei caro por isso.

Embora ainda conviva virtualmente com todos os colegas da época, tenho plena consciência de onde errei e por que errei. Tristemente, aprendi sozinho, nunca fui alertado sobre isso.

Como, então, não repetir?

1. Aceite que o cargo não é para você

Sim, é possível. Você nem sempre é a pessoa certa para o cargo certo. Pode ser a pessoa certa para o cargo errado ou, como era meu caso, a pessoa errada para o cargo certo. Se a chefia não via dessa forma, cabia a mim fazer este julgamento. Fale com o RH ao receber o convite, pondere, converse em casa e, por que não, aqueles que disputam a vaga com você. Lembre-se: dizer não para os outros é dizer sim para você mesmo.

2. A sua vida pessoal vale mais do que qualquer promoção

Promoções e subidas de cargo exigem um investimento pessoal maior, especialmente no início, com o acúmulo de funções e responsavilidades. Você está com tempo de viajar pelo Brasil ou pelo mundo? Você pode se dar ao luxo de sair de casa 7h30 e voltar 20h30? E ainda ficar no micro resolvendo pendências? Está disposto a morar em outro Estado, levando marido/mulher, filhos, cachorro e peixe? Ou sacrificar viagens e fins de semana por um cargo e salário mais altos? Isso sem falar na vida conjugal. Se sim, essa promção é para você.

3. Por fora, bela viola…

… Por dentro, pão bolorento. O ditado é antigo – e sábio. Ao receber uma oferta de promoção, raramente somos avisados por aqueles quem nos convidam das agruras do novo cargo. Ninguém avisa que do outro lado do arco-íris há colegas prontos para azedar o seu dia a dia ou um diretor especialista em assédio moral - quando não, sexual. Se você suspeita que pode correr esse risco, fuja para as montanhas. 

4. Nunca aceite nada pela metade

Se a ideia é mudar de cargo, mas o salário não lhe convém, não aceite a promoção. Se o salário lhe convém, mas o cargo não é condizente ou implica em responsabilidades incompatíveis com seus valores e expectativas, deixe passar a oportunidade.

5. Diga não com elegância

Está claro que é possível – e preferível – recusar uma promoção a viver um inferno na terra. “Como” e “quando” você irá dizer o não é que farão a diferença. Sim, porque existem gestores que não aceitam não como resposta, seja por vaidade, seja por falta de alterntivas. Pensar bem, portanto, é a chave do problema. Você não precisa responder na hora nem mesmo no dia. Se dê um prazo para pensar e ouvir a família, amigos, colegas ou seu coach. Nesse meio tempo, elabore como responder para não ofender e dizer um não com elegância. Saber chegar é importantíssimo, mas saber sair é ainda mais.

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Marc Tawil

Jornalista, radialista e escritor. Pertenceu às redações do jornal Resenha Judaica, Rádio Jovem Pan AM, Jornal da Tarde (Grupo Estado) e Rádio BandNews FM. Publicou os livros Trânsito Assassino (Ed. Terceiro Nome), Haja Saco, o Livro (Ed. Multifoco) e editou a biografia do advogado Abrão Lowenthal (Ed. Quest). Tem MBA em Gestão Empresarial pela FGV e cursa MBA de Marketing pela USP. Dirige a Tawil Comunicação