Uma importante forma de comunicação com nós mesmos é a autoverbalização, também conhecida por diálogo interno. Pode ocorrer em voz alta, quando falamos sonoramente ou silenciosamente, quando não verbalizamos, mas tomamos consciência do conteúdo em pensamento. Ambas as formas são eficazes, interagem com nossos pensamentos e são muito poderosas, pois influenciam nossas decisões, orientam nossas ações e os passos seguintes, visando à realização de algo. Já o impacto positivo ou negativo que recairá sobre nós, dependerá da natureza do conteúdo, que é o resultado das escolhas que fazemos ao que queremos transmitir a nós mesmos.

Devemos ser cautelosos com relação ao que dizemos a nós mesmos, principalmente quando enfrentamos problemas pessoais ou psicológicos, que nos abalam a autoconfiança, autoestima, ou deflagram crises de ansiedade, angústia, depressão, desesperança, negativismo. Quando vivemos um estado confuso ou de abatimento, temos uma maior tendência em nos causar sofrimento, utilizando os diálogos internos. Sendo que, as palavras proferidas ou pensadas, que habitam nossa mente podem ser muito dolorosas, em função de seu conteúdo.

O diálogo interno negativo assombra a vida de muitas pessoas! É um dos transtornos mais comuns e uma das razões pelas quais, pessoas procuram o Life Coaching ou Psicoterapia, pois querem se livrar de seu diálogo interno negativo, reduzi-lo, torná-lo menos invasivo ou pelo menos aprender a lidar positivamente com ele. Algumas pessoas buscam formas de lidar com o diálogo interno negativo, pois ele caracteriza nossos humores negativos como: raiva, ansiedade, culpa e pânico.

Conscientemente, não temos a intenção de expressar nossos humores negativos veementemente. Isto seria insano e disfuncional. No entanto, isso ocorre por não sabemos como conduzir essa forma de pensamento negativo, e como resultado, acreditamos que estamos presos a ele e que é parte integrante da nossa realidade de vida.

Seguem alguns diálogos internos negativos, observados em algumas pessoas, quando em estado de negatividade, sobre os quais deverão ganhar consciência no sentido de revertê-los, tão logo, se conscientizem de sua verbalização.

Eu não valho nada -> Um ataque direto à autoestima, ao valor pessoal e certamente não corresponde à verdade! Afirmar que você não vale nada, mantém crenças negativas que surgiram e/ ou enraizaram ao longo de sua vida. Ainda que perceba que existem coisas que necessita melhorar, ou que tem dificuldade, e que têm impedido de atingir seus objetivos, denegrir-se, certamente não irá fazê-lo sentir-se melhor ou agregar-lhe algum valor, certo?

Não adianta me incentivar -> Este diálogo interno é complementar ao anterior. É negativo ao quadrado, vez que ratifica a afirmação que você não tem valor e, que independente do que vier a fazer, não será bem sucedido. Nada mais inverídico, pois você desconhece os fatos sobre seu futuro, não sabe se seus esforços serão bem sucedidos e ignora o fato de quando estamos animados e motivados, aumentamos nosso impulso para a ação, criando soluções e novas possibilidades.

Eu não consigo fazer -> Diálogo interno com afirmação irracional e incapacitante. Há momentos na vida que você realmente não pode, não consegue fazer algo, no entanto, na maioria das vezes este diálogo interno é proferido como autocrítica negativa, um ataque letal ao ego, mais do que propriamente como um fato real.

Eu nunca serei bem sucedido -> Diálogo interno poderoso e indutor do fracasso, pois mesmo antes de você tomar a iniciativa de fazer algo, já se sentencia com a morte de qualquer possibilidade de sucesso independente da área de sua vida. Sabemos que o sucesso não se constrói do dia para noite e que ao longo do percurso enfrentaremos recuos, fracassos e dificuldades. Ao verbalizar tal afirmação irracional, que irá falhar, está se autosabotando antes mesmo de começar.

As pessoas não vão gostar de mim -> Diálogo interno que manifesta claramente a autorejeição. Desta forma, você é o primeiro a rejeitar-se. Agora, imagine quando você vive uma nova situação, afirmando para si que as pessoas não vão gostar de você, estará contribuindo e muito, para tornar uma profecia autorrealizável. Acredite, sua atitude subconsciente o fará agir de forma a afastar as pessoas, e isso é tudo o que você não deseja, certo?

Os outros são melhores do que eu -> Existe uma tendência natural em compararmo-nos com os outros. Por vezes, agimos com preconceito contra nós mesmos. Afirmar que outros são melhores do que você é uma apunhalada em seu ego, que responde com a diminuição da autoestima e promove a mentalidade de vítima. É esperado que existam pessoas que você considere “melhores”, isto não justifica que se rotule como “pior”. Avalie-se a seu favor, perceba no que quer investir para potencializar-se integralmente, seja na aquisição de uma nova habilidade, técnica, abordagem ou um comportamento. Enfim, não incorra na generalização de sua identidade, considerando a totalidade do seu ser como “pior”.

Eu não tenho valor -> Este é um diálogo interno potente, que “condena” pessoas que se sentem despreparadas para lidar com as exigências da vida. A autopercepção de inadequação pessoal é desanimadora. Não alimente esse diálogo, não generalize, não se rotule, pois é devastador existencialmente falando. Todos, sem exceção, temos nosso próprio valor. Ainda que em algum momento tenhamos agido mal, falhado em algo ou que nos tenha faltado força e empenho para concluir um projeto, porém, nada disso é suficiente para determinar o nosso valor.

Eu tenho que ser perfeito -> Se você pretende atuar e sentir-se um fracassado, critique-se severamente sempre que você julgar ter sido imperfeito, fato que ocorre cotidianamente em nossas vidas. Somos naturalmente imperfeitos e lidamos com o conceito subjetivo e utópico da perfeição. Muitos afirmam não acreditarem em perfeição, mas mesmo assim, perseguem e vivem a relação paradoxal da autosuperação. Podemos nos avaliar quanto à nossa eficácia, nosso poder de realização de objetivos, mas não com relação à “perfeição”, pois se trata de uma crença irracional e um conceito utópico. 

A minha opinião não importa -> Esta afirmação é mais um ataque direto à sua autoestima. Quando se afirma algo deste género para si, você não se atribui valor e se percebe como indigno. Temos nossa própria opinião, que dependendo do contexto, pode ser aceita ou não, mas o mais importante para você é expressá-la. Quando você forma sua opinião, significa que construiu uma ideia acerca de algo, mas não há como prever a reação das pessoas à sua opinião assim, mais uma razão para expressá-la.

Nunca conseguirei fazer nada de interessante -> Alguns afirmam isso como se tivessem conhecimento, segurança e certeza sobre seu futuro. Fato improvável. É um diálogo interno que advém de pensamento criado por nós e baseado em nossa própria insegurança. Viver um momento de insegurança não nós torna pessoas capazes de prever o futuro de nossas ações. O relevante é perguntar-se, o que eu posso fazer, aprender, ou criar para me sentir mais realizado?

Revertendo diálogos internos negativos:

Detecte os diálogos internos negativos -> Em grande parte do tempo, em nossa vida, vivemos no piloto automático (agindo sem necessariamente pensar antes) e assim, consentimos que as verbalizações que habitam nossas mentes estraguem nosso dia ou comprometam nossa vida. Podemos desenvolver o hábito positivo de nos “policiarmos” ao dizermos coisas que influenciam negativamente a nós e nossas ações.

Identifique e nomeie -> Reconheça e marque o que você pensou ou disse (diálogo interno). Crie uma âncora, uma associação para esse diálogo interno negativo. Atribua lhe um nome, para que sempre que ouvir ou lhe vier à sua mente, você saiba identifica-lo e trata-lo. Dessa forma, rapidamente conseguirá agir para evitar que esse diálogo interno negativo se instale e torne-se uma “certeza” para você. Também conseguirá identificar as mensagens autosabotadoras que muitas vezes cria a você mesmo.

Crie e use um gatilho de substituição -> Fique atento, caso você se flagre reproduzindo um diálogo interno negativo, afirmando que: “Os outros são melhores do que eu”, por exemplo, então faça uma pausa, respire e diga a você (mentalmente ou em voz alta se for possível): “Eu só tive o pensamento - (Os outros são melhores do que eu)”. O fato de eu ter pensado, NÂO significa que na realidade eu o siga, que faça sentido em minha vida ou que eu acredite nesse pensamento irreal e disfuncional. Na sequencia, crie um diálogo interno positivo e funcional para substituir, por exemplo: “Ninguém é melhor do que ninguém, todos temos nossas habilidades, valores e funções que nos tornam únicos e necessários”.

Esta é uma das formas para se lidar com diálogos internos negativos. Quando você praticar este processo, poderá identificar e nomear seu diálogo interno, apenas como uma voz ouvida em sua mente e um pensamento verbalizado, mas que não é necessariamente, um fato real em sua vida. Caso você não perceba que seu diálogo interno negativo não corresponde ao que você é na realidade, corre um risco elevado de personalizá-lo, prejudicando-o. Não permita que isso aconteça.

Assuma o poder sobre sua vida e controle seus pensamentos, diálogos internos, opiniões, decisões e ações, tornando-os funcionais e congruentes com seus propósitos de vida. Precisando de ajuda, procure um profissional qualificado.

Marcio Caldellas – Psicólogo clínico, Personal, Career & Executive Coach certificado pela Sociedade Brasileira de Coaching e BCI – Behavioral Coaching Institute – USA. Sólida carreira desenvolvida em Executive Search como Headhunter atuando com posições executivas. www.mccoaching.net