Como é do nosso conhecimento, todo ramo de atividade possui suas forças e oportunidades, mas também suas fraquezas e ameaças, conforme pode ser analisado por meio de uma Matriz Swot cujo modelo segue abaixo:

Um bom exercício para compor uma parte de um planejamento estratégico de uma operadora de planos de saúde seria o preenchimento desta matriz em pelo menos cinco dimensões:

  • Mercadológica;
  • Econômico-Financeira;
  • Demográfica;
  • Estrutural; e
  • Legal;

Mais especificamente na primeira dimensão, a mercadológica, arrisco dizer que (quase) todos os gestores das Operadoras não vislumbravam há alguns anos mudanças neste mercado tão radicais como as que estão acontecendo nesses últimos meses (incluindo 2015 também).

Provavelmente a preocupação deles estava mais voltada para a concorrência entre os segmentos já conhecidos de medicina de grupo e cooperativas médicas, por exemplo. Contudo, eis que é chegada a hora de novos concorrentes: as clínicas populares e o aplicativo

Não bastasse o mercado de saúde suplementar ser amplamente regulado e possuir um nível de risco elevado, por vezes abordados em outros textos meus, agora convive com essa nova ameaça advinda do ambiente externo.

É consabido que os clientes que detém uma renda mais alta acabam por adquirir um plano com uma seguradora (livre escolha com a possibilidade de reembolso) ou não possuem plano de saúde e pagam tudo no particular com os melhores profissionais.

No entanto, estamos falando aqui de outro tipo de clientela: daqueles que foram afetados diretamente com o desemprego e, por consequência, perderam o plano de saúde da qual estavam vinculados no antigo emprego (grande massa de perda deste mercado).

Ao mesmo tempo que esse grupo está evitando adquirir um plano de saúde que requer pagamentos mensais, também quer evitar as filas intermináveis do SUS.

Nesta linha, transcrevo abaixo um interessante (e realista) texto que li recentemente da colega Lenisa Lavigne Santos Spinola, que trata desta temática, a seguir:

"Nova modalidade de Concorrência"


"Os planos de saúde perderam 617 mil clientes no primeiro trimestre deste ano, conforme  dados divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar.

Em março de 2016 o setor reuniu no país 48,824 milhões de beneficiários em planos de assistência médica, apresentando uma queda de 1,25% de beneficiários em relação a dezembro do ano passado.

Trata-se da terceira queda trimestral seguida e a maior em números de clientes perdidos da série histórica da ANS.

Com a atual crise, mais de 1,8 milhão de consumidores perderam o plano de saúde desde o início de 2015. Muitos deles perderam o benefício por motivos de desemprego e, mesmo aqueles que possuem recursos financeiros para contratar planos individuais,  optando por  reduzir o padrão de cobertura e a dificuldade conciliar o pagamento de mensalidades que são reajustadas em índices superiores ao dobro do reajuste da renda do consumidor,  podem não encontrar opções de contratação.

A maioria das operadoras de saúde deixaram de comercializar planos de saúde individuais e esse tipo de contrato, que responde por menos de 20% do total de consumidores. As Operadoras em todo país constaram que esse tipo de produto é muito mais benéfico ao consumidor, pois, o teto do índice do reajuste anual da mensalidade é estabelecido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e que outra desvantagem é que a operadora não pode rescindi-lo unilateralmente.

A queda de beneficiários de planos vem trazendo impactos para o sistema de saúde brasileiro.  A dificuldade de acesso a especialistas na rede pública já é sentida por quem perdeu o plano de saúde.Para resolver este problema, para quem não tem condições de pagar as mensalidades, para os beneficiários que apresentam a insatisfação com os planos de saú­de, que nos últimos três anos lidera o ranking das reclamações do Instituto Brasileiro de Defesa ao Consumidor e também não para aqueles que não podem ou querem esperar pelo atendimento do SUS, novas opções surgiram no mercado.

Me refiro às clínicas populares. Clínicas que oferecem consultas e exames médicos a preços populares com valores que chegam a ser até dez vezes menores do que em hospitais particulares e grandes laboratórios.

Na clinicas populares, o número de especialistas e procedimentos oferecidos crescem constantemente, assim como o de unidades. A forma de pagamento, dependendo do valor,  pode ser com  parcelamentos a perder de vista. Segundo algumas pesquisas, o número de atendimentos cresce 15% mensalmente e, no último mês, aumentou 30%.

Por observar esse comportamento dos beneficiários e do interesse ao acesso os serviços de baixa complexidade, recomendamos que as operadoras revejam a estratégia de vendas de seus produtos, que repesem a comercialização de planos individuais e principalmente revisitem a ideia de lançamento de produtos exclusivamente ambulatoriais para que possam identificar a oportunidade de captar beneficiários com o novo perfil e comportamento enfrentando assim a nova modalidade de concorrência."

 

Fonte original do texto devidamente autorizado para esta publicação, clique aqui.

Além desta questão das clínicas populares, como destacado no início, ainda existe o aplicativo, que pode ser visto mais detalhadamente na reportagem abaixo (basta clicar na imagem):

***

Conclui-se então que o mercado vem mudando e assim se estabelecem outras alternativas de atendimento por meio de novos players com o foco, até então, no atendimento ambulatorial. E essa tendência de inovação, ao que tudo indica, não tem mais volta. 

Portanto, para finalizar, fica a seguinte pergunta para reflexão:

As operadoras acordaram para esta nova realidade de concorrência? 

Vamos em frente...

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