Não há quem não conheça esta sensação. Estar carregando o mundo nas costas ou não parar de escutar: “Você estragou tudo”! Assim, rapidamente nos sentimos a pior e mais incompetente pessoa do mundo! E aí, os questionamentos começam a chegar: e se não tivesse dito aquilo...? E se tivesse feito diferente...?
A boa notícia é que nesta hora, hora dos questionamentos, você tem ...a oportunidade de aprender, de crescer, de iniciar ou dar continuidade à sua reforma íntima. Tenha calma, espere, respire, acalme os ânimos, peça perdão. Não faça ou diga mais nada, ainda com a cabeça quente...

O Criador da Vida é de infinita bondade e compreensão e sempre vê com os olhos do amor, nunca punindo suas criaturas; na realidade, são elas mesmas que se autopenalizam por não se renovarem nas oportunidades do livre-arbítrio e por ficarem, no presente, agarradas aos erros do passado.

Culpa quer dizer paralisação das oportunidades de crescimento no presente em consequência da nossa fixação doentia em comportamentos do passado.
Quem se sente culpado se julga “em pecado”. Logo, todos nós vestimos a densa capa da culpa desde a mais tenra infância.
Certas religiões utilizam-se frequentemente da culpa como meio de explorar a submissão de seus fiéis. Usam o nome de Deus e suas leis como provedores do mecanismo de punição e repressão, afirmando que garantem a salvação para todos aqueles que forem tementes a Deus.

A culpa, como bem disse a psicanalista Ângela do Rosário na última edição da Revista Sorria para Ser Feliz Agora, tem pelo menos duas facetas: uma interna – o arrependimento, a vontade de voltar no tempo, a de querer uma nova oportunidade para fazer diferente. A outra, pode vir de fora – nos sentimos mal por não corresponder às imposições do sistema em que estamos inseridos, “fora dos padrões” – é o caráter cultural da culpa – o mundo impondo um excesso de exigências para o ser humano alcançar uma plenitude na beleza, na carreira, na saúde e na família. Assim, ficamos imersos numa sociedade narcisista, onde as pessoas se culpam constantemente.

Nossa atual cultura ainda é a mais grave geradora de culpa na formação educacional dos relacionamentos, seja no social, seja no familiar. No recinto do lar encontramos muitos pais induzindo os filhos à culpa: ?Você ainda me mata do coração!, tática muito comum para manter sob controle uma pessoa rebelde; ou dos filhos que aprenderam a tramoia da culpa, para obter aquilo que desejam: ?Os pais de minhas amigas deixam elas fazer isso!. Culpar não é um método educativo, nem tampouco gerador de crescimento, mas um meio de induzir as pessoas a não se responsabilizar por seus atos e atitudes. Em muitas oportunidades encontramos indivíduos que teimam em culpar os outros, acreditando ser muito cômodo representar o papel de injustiçados e perseguidos. Colocam seus erros sobre os ombros das pessoas, da sociedade, da religião, dos obsessores, do mundo enfim. No entanto, só eles poderão decidir se reconhecem ou não suas próprias falhas, porque apenas dessa forma se libertarão da prisão mental a que eles mesmos se confinaram.
Assim, é praticamente impossível lidar bem com a culpa imediatamente: no primeiro momento, ela sempre vai incomodar!
O importante é assimilar este sentimento de forma sábia e sadia, precisando ser entendido, trabalhado e elaborado; do contrário, o rotulo de fracassado nos derrota e, na maioria das vezes, termina em isolamento – a porta de entrada para maus pensamentos e quadros depressivos.
Quando conseguimos entender que ela não precisa ser só uma dor amarga, mas uma lição construtiva, ela pode ocupar um espaço diferente dentro de nós e virar uma aliada.

Dar importância às culpas é focalizar fatos passados com certa regularidade, sempre nos fazendo lembrar de alguma coisa que sentimos, ou deixamos de sentir, falamos ou deixamos de falar, permitimos ou deixamos de permitir, desperdiçando momentos valiosos do agora, quando poderíamos operar as verdadeiras bases para nosso desenvolvimento intelecto-moral.

É como nos ensina a Bíblia ?” Ninguém que lança mão ao arado e olha para trás é apto para o reino de Deus ”. Olhando para trás, a alma não caminha resoluta e, consequentemente, não se liberta dos grilhões do passado. Todos nós fomos criados com possibilidades de acertar e errar; por isso, temos necessidade de exercitar para aprender as coisas, de colocar as aptidões em treino, de repeti-las várias vezes entre ensaios e erros. Digerir com paciência e cuidado este sentimento, sem autodestruição, faz com que se transforme em bagagem emocional, nos tornando pessoas melhores e mais tolerantes em relação ao mundo e a nós mesmos.

A culpa se estrutura, como já dissemos, nos alicerces do perfeccionismo. Alimentamos a ideia de que não seremos suficientemente bons se não fizermos tudo com perfeição. Esquecemo-nos, porém, de que todo o nosso comportamento é decorrente de nossa idade evolutiva e de que somos tão bons quanto nos permite nosso grau de evolução. A todo momento, fazemos o melhor que podemos fazer, por estarmos agindo e reagindo de acordo com nosso senso de realidade.

O arrependimento resulta do quanto sabíamos fazer melhor e não o fizemos, enquanto que a culpa é, invariavelmente, a exigência de que deveríamos ter feito algo, porém não o fizemos por ignorância ou impotência.
Não há, razão, portanto, para culpar-se sistematicamente, pois ele será cobrado pelo “muito” ou pelo “pouco” que lhe foi dado, ou mesmo, muito se pedirá àquele que muito “recebeu”. Lucas 12:48

A culpa é sempre proporcional ao grau de lucidez que se possui, isto é, nossa ignorância sempre nos protege. Não guardemos culpa. Optemos pelo melhor, modificando nossa conduta. Reconheçamos o erro e não olhemos para trás, e sim, para frente, dando continuidade à nossa tarefa na Terra!

“... Rendamos graças a Deus que, na sua bondade, concede ao homem a faculdade da reparação e não o condena irrevogavelmente pela primeira falta. ”