Em qualquer atividade é necessário saber o tempo necessário para iniciar e terminar determinado processo gerando valor para a companhia. Quanto menor for este tempo, menor será a necessidade de estoque para atender as demandas de vendas e suas variações. Quanto menor o estoque, menor será a quantidade de dinheiro imobilizada e o risco de perdas por avarias / obsolescência / vencimento. Portanto a gestão do Lead time é fundamental para a competitividade e saúde financeira de qualquer corporação, sendo que qualquer melhoria reflete diretamente no fluxo de caixa, necessidade de capital de giro e na gestão de riscos financeiros (provisão de perdas).

Qual a importância de realizar a gestão do Lead time na área de qualidade?

A indústria farmacêutica apresenta necessidades específicas e regulamentadas sobre o controle analítico de insumos e produtos finais, assim como com relação a avaliação do processo por meio de registros. Todas estas atividades fazem parte do caminho crítico para a produção de medicamentos e são controladas pela área da qualidade. Portanto, pode-se afirmar que a participação deste departamento na gestão e melhoria do Lead time de produção é decisiva.

Quais processos da qualidade devem ser monitorados?

Dentro da cadeira de produção de medicamentos deve-se no mínimo ter padrões de tempo e monitorar a performance dos processos abaixo:

a)      Amostragem de insumos recebidos (matéria-prima, material de embalagem e semiacabado)

b)      Análise de insumos (matéria-prima, material de embalagem e semiacabado)

c)       Análises de controle em processo (somente as que servem como indicativo para continuidade de processos)

d)      Análises de produtos acabados/semiacabados

e)      Tempo de conferência de documentação produtiva

Como monitorar e promover a melhoria?

O lead time dos processos citados anteriormente podem ser medidos na unidade de tempo (dias, horas) ou em relação a aderência a um padrão de tempo esperado (% executado em 72 horas). Independentemente da forma de expressar o resultado, deve-se tomar cuidado para que sejam padronizados e capturados corretamente os tempos de início e fim das atividades. Por exemplo a amostragem, no qual pode ser considerado como início o momento em que a equipe de almoxarifado deu entrada no material e fim o momento que a amostra chegou ao laboratório. Lembre-se, a razão de monitorar o Lead time de processos e saber como esta atividade impacta no tempo total para geração de produtos, portanto tome o cuidado para não excluir etapas que “não fazem parte” do seu departamento.

Uma das ferramentas para iniciar o mapeamento e melhoria do lead time é o VSM (value stream mapping). Nele são mapeados os tempos que agregam valor e os tempos de espera, assim como tempos de ciclo, horas homem, horas máquina, estoques em processo, entre outras informações necessárias. Com isso são realizadas melhorias na operação para reduzir os tempos de espera (não agrega valor) e por consequência reduzir o Lead time. Nesta avaliação é comum encontrar fluxos não definidos ou não padronizados, falta de informação e comunicação, layout e infraestrutura que favorecem a movimentação de materiais e operadores. Resumindo: questões simples do dia a dia que sem a devida atenção e busca pela perfeição geram grandes atrasos.

Qual é o impacto na cadeia de suprimentos da indústria farmacêutica?

Ter todo o portfólio disponível a qualquer momento, em qualquer quantidade é o sonho de qualquer profissional da área comercial. O valor de inventário e o risco perdas financeiras inviabilizam este sonho, sendo que cada empresa deve definir seu nível de serviço logístico e tomar todas as ações para alcançá-lo. Neste contexto, a gestão do lead time é fundamental pois as previsões de ponto de reposição ou estoque de segurança utilizam este valor como referência (vide modelos de gestão de estoques). Portanto, qualquer redução deste tempo, além reduzir a necessidade de capital para as operações, favorece qualquer estratégia comercial para atingir mercados ou clientes na frente da concorrência.

Autor:

Robson Assis França é farmacêutico Industrial e black belt com MBA em projetos e Master na gestão do supply chain. Atua como gestor da área de Qualidade em indústrias farmacêuticas e é fundador do grupo Farma Info do linkedin.