Recentemente um amigo compartilhou comigo um artigo da Harvard Business Review escrito por Gary Hammel (*) que comentava sobre algumas observações feitas pelo Papa Francisco aos líderes da cúria romana, indicando o que chamou de “os 15 males da liderança” observados em vários tipos de organizações e que poderiam igualmente se manifestar na gestão administrativa da Igreja, devendo ser evitados.
(*) Veja o artigo completo em: 
http://hbrbr.com.br/as-15-doencas-da-lideranca-segundo-o-p…/

Sendo a Páscoa uma celebração da igreja cristã que remete à morte de Jesus pela humanidade, aproveitei o momento para escolher um tema para esta publicação que tivesse relação com a data, e dentre as 15 “doenças” da liderança comentadas pelo Papa encontrei uma que me pareceu bem fácil de fazer o contraponto com o ambiente corporativo: o mal da INDIFERENÇA PELOS OUTROS. Falemos então, sobre a importância de um líder demonstrar constantemente ser uma pessoa que se preocupa com os outros e se entrega para as pessoas.

Quando o assunto é liderança e “preocupação” com os outros, nos referimos à importância das relações humanas. E em um mundo onde a comunicação se faz tão crítica para desempenharmos nosso papel, onde a conectividade diminui distâncias e acelera o compartilhamento de informações, e onde as interações se multiplicam em diferentes formas, nunca o tema “relações humanas” se fez tão relevante para determinar o sucesso das organizações. Para o líder, tirar o foco de si mesmo e aproveitar as oportunidades para nutrir relações genuínas é uma competência valiosa. Infelizmente, sabemos que existem pessoas em posição de liderança que se importam mais com o que podem obter e não o que podem oferecer, refletindo um egoísmo que compromete sua imagem e influência.

O verdadeiro líder importa-se com os outros na medida em que, por exemplo:

- Na relação com sua equipe e pares, está sempre aberto às pessoas e suas ideias; envolve a todos no trabalho, sem relações de favoritismo ou proteção; permanece disponível para recebê-los e atender suas necessidades em termos de orientação, feedback, etc.; compromete-se em indicar pontos de melhoria e suportar seu desenvolvimento; transfere seu conhecimento e busca aprender com o time também. Passar o tempo junto de sua equipe é uma prioridade para o líder. Em minha experiência sempre digo que com exceção de alguma providência muito séria envolvendo clientes ou diretorias e com prazo curto para resolução, sempre paro o que estiver fazendo para dar prioridade à pessoa que busca minha atenção, caso contrário alguma tarefa na equipe corre risco de ser atrasada ou até mesmo não acontecer.

- Na relação com outras equipes, está atento ao que fortalece as relações interdepartamentais e atua no sentido de estimular o diálogo e colaboração. O líder defende sua equipe mas deve também reconhecer suas falhas e corrigi-las; porém só consegue endereçar as melhorias quando tem condições de ouvir o feedback com tranquilidade e imparcialidade. Assegurar que seu time cumpra com sua parte ao servir outro time deve vir primeiro, para depois poder cobrar a outra parte se for o caso. Muitas vezes me deparei com “guerras” entre departamentos onde uma conversa tranquila e transparente “de líder para líder” minou o conflito; com a atuação profissional de ambos conseguimos reverter o quadro. (isso requer que ambas as pessoas na posição de liderança compartilhem dos mesmos valores, atitudes e estejam buscando a convivência sem competição).

- Na relação com outras pessoas fora da sua organização, dar importância ao outro pode refletir-se na habilidade do líder em construir e manter um “networking” efetivo com diferentes tipos de público. Muitas pessoas tem dificuldade em praticar o “networking” por encarar como um “jogo de interesses” nem sempre genuíno, pois lançam mão destes contatos apenas quando precisam de algo vindo dos mesmos. Assumindo que existem, claro, interesses lícitos em uma relação e que estes são recíprocos, assim como a capacidade de ambos fazerem algo pelo outro, alimentar o contato com sua rede de relacionamentos passa a ser um comportamento natural e contínuo. Alguém faz algo por você, mas você está preocupado também em oferecer algo para o outro. Falarei mais sobre este tema em outra publicação.

À medida em que mais pessoas deixarem de só pensar em si mesmas e valorizarem as relações humanas genuínas, manifestando seu interesse nos propósitos dos outros como meio de influenciá-los a ajudá-los com o seu, teremos mais líderes de fato atuando em nossas organizações.