Em minha atuação clínica, noto que, oito a cada dez casos que me chegam, são pacientes com queixas resultantes da perseguição obstinada pela perfeição. Contudo, a maioria afirma, não acreditar em perfeição, mas, no entanto, a perseguem e ficam estagnados na escolha paradoxal de perseguir algo que não acredita ser possível. 

Perfeccionismo é um traço da personalidade de alguns, caracterizado pela busca incansável de padrões cada vez mais elevados, devido a sua extrema autoexigência e ao critério de autoavaliar-se, como pessoa de valor, apenas baseado no alcance desses padrões. A busca pela excelência e pelo aprimoramento pessoal podem ser saudáveis. Já o perfeccionismo, é muitas vezes visto como problemático ao atingir níveis extremos e que interferem no bem-estar emocional e na funcionalidade cotidiana. 

Características do perfeccionismo: 

Perfeccionistas definem metas e padrões extraordinariamente altos para si, muitas vezes, utópicos, além do alcance realista. 

São auto exigentes e se autoimpõem, uma forte pressão interna para atingir os altos padrões, invariavelmente seguido de autocrítica intensa, se não se satisfizerem com os resultados obtidos. 

Perfeccionistas têm verdadeira aversão a possibilidade de falhar e intolerância aos erros. Ainda que erros menores, são percebidos como fracassos pessoais, levando a sentimentos de ansiedade, incompetência e inadequação. 

O medo de não conseguir atingir a perfeição pode levar a pessoa à procrastinação. Alguns perfeccionistas evitam começar a fazer algo, se não tiverem certeza de que podem executá-lo perfeitamente.

Alguns perfeccionistas condicionam sua autoestima e a vinculam ao seu desempenho (Autoestima = desempenho) e, à validação dos outros. Seu valor pessoal pode ser fortemente influenciado pelo sucesso ou fracasso em atender aos padrões pré-estabelecidos por ele. 

O perfeccionismo geralmente afeta negativamente as relações interpessoais. Porque alguns perfeccionistas têm expectativas irreais em relação a si e aos outros, tornando as interações, chatas e desafiadoras, devido à pressão e as cobranças que ele repassa aos outros, acreditando que o seu jeito de pensar e agir é o melhor, o mais correto e deve ser generalizado aos demais. Melhor e correto, para quem? O perfeccionista não individualiza as interações pessoais.

Ressalto que o perfeccionismo não é necessariamente negativo, e algumas pessoas bem-sucedidas têm traços perfeccionistas. Contudo, quando o perfeccionismo se torna debilitante, prejudica a qualidade de vida e contribui para problemas de saúde mental. Nesse caso, é aconselhável buscar apoio psicológico para administrar e equilibrar esses traços. 

Ter consciência do próprio perfeccionismo, desenvolver uma nova visão do erro, praticar a autocompaixão, aceitar as suas imperfeições e as dos outros, são passos fundamentais para lidar com esse traço de personalidade de maneira mais eficaz e saudável. 

O paradoxo do perfeccionismo: Refere-se à ideia contraditória de buscar a perfeição e, ao mesmo tempo, enfrentar as dificuldades significativas ou até impossíveis de alcançá-la. O perfeccionismo pode ser definido como a busca implacável por padrões elevados, acompanhada por uma autoavaliação rigorosa e crítica de seu desempenho.

 

 
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