Os valores importam, cada vez mais – ser um líder com bom carácter importa. E também compensa financeiramente.

A honestidade é sempre a melhor política, e acaba por compensar. Quem disse isso foi o consultor em liderança Fred Kiel que realizou um estudo de sete anos com mais de 100 CEO, nas suas companhias e 8.500 colaboradores. E entre os dados estatísticos está a descoberta de que os líderes com fortes traços de carácter alcançam cinco vezes mais sucesso no bottom-line, que o guru de gestão explica no livro “Return on Character: The Real Reason Leaders and Their Companies Win”. 

Nesse momento onde estamos vendo pessoas sem caráter se dando na politica, em casos policiais e também nas organizações. Esse estudo motiva ainda mais as pessoas de bom caráter persistir e não perderam as suas essenciais. Vou aqui dar destaque a alguns tópicos desse estudo. Numa altura em que se acredita que a realização organizacional depende de estratégias e modelos de negócios brilhantes, e em que ser bom carácter é apenas a “cereja no topo do bolo”, este é um estudo digno de atenção. O autor declara que o carácter é crucial, tanto para a liderança como para o sucesso das organizações, sobretudo quando os líderes trabalham para incutir estas virtudes nas suas empresas. De acordo com o trabalho de Fred Kiel, os líderes que atingem os melhores resultados financeiros têm fortes hábitos de carácter, que passam por quatro princípios básicos:  

Integridade

Os melhores líderes esforçam-se para dizer sempre a verdade e manterem as suas promessas, diz Kiel. Também não têm a pretensão de que sabem tudo, e procuram de forma ativa respostas nos outros, reconhecendo que vale a pena ouvir os seus colegas e que estes às vezes são mais espertos que eles próprios. A integridade constrói confiança nestes relacionamentos, e prova se um líder cumpre o que apregoa. 

A definição usual para se compreender a integridade – fazer o que é correto quando ninguém está te vendo – talvez seja demasiado simples. O coronel Eric Kail (1965-2013), que foi diretor de liderança militar na Academia Militar West Point, nos EUA, considerava que há duas componentes críticas para criar integridade: 1) a adesão a um princípio moral ou ético, 2) a procura de um estado inalterado. “Todos cometem erros, pelo que ser uma pessoa íntegra não significa que nunca tenha cometido uma violação moral ou ética; significa ter a força de carácter para aprender com os “maus comportamentos” e tentar auto aperfeiçoar-se de forma contínua”, de acordo com o militar. 

Responsabilidade

Os líderes bem-sucedidos são capazes de tomar as decisões difíceis que mantêm as empresas a funcionar a todo vapor, refere Kiel, mas também conseguem admitir quando estão errados. Além do mais, estabelecer uma cultura de responsabilização parece ser tão importante como o trabalho que estar ser realizando. O estudo de Kiel indica que a relação entre a eficácia organizacional e as características da equipe  é mais forte do que com o CEO em si – sugerindo que o trabalho de um lider não é apenas liderar bem, mas também desenvolver uma equipe  de elevado desempenho que pode inspirar o progresso na organização. Ou seja, os lideres devem trabalhar para garantir que os membros da sua equipe podem adaptar-se e prosperar em condições de negócios em constante mudança, tendo em mente que a gestão pode construir ou mandar abaixo o sucesso de uma organização. 

Perdão

Os bons líderes, além de serem cristalinos quanto às suas decisões, acreditam em aprender com os erros, bem como em perdoar os outros quando falham. Em vez de repreender ou varrer os colaboradores para debaixo do tapete, estes líderes incentivam-nos e orientam em direção a melhores caminhos, ensinando novas competências, e ajudando-os a crescerem a partir das suas experiências em vez de serem esmagados pelas mesmas. 

Perdoar pode ser o traço de liderança menos compreendido no mundo dos negócios, de acordo com David Williams, CEO da Fishbowl (empresa que produz software de gestão de inventário). O responsável adverte especificamente contra processos que ficam tão enraizados na cultura da empresa que são prejudiciais para a motivação e a progressão dos trabalhadores. E aconselha as empresas a avaliarem de modo contínuo o custo do tempo e os recursos, mas a não questionarem cada movimento dos colaboradores. Trata-se de lhes conceder a confiança e o respeito que quer em troca, e dar-lhes a liberdade para criarem e construírem por conta própria.

Compaixão

De todos os traços de carácter, a compaixão é a mais poderosa para envolver uma equipe, considera Kiel. Os líderes eficazes têm tanto a resistência militar de um general à frente das fileiras como o cuidado e a compaixão de um mentor centrados no sucesso individual. Conseguir este equilíbrio nem sempre é fácil, mas ter este nível de interesse pessoal e preocupação é tão necessário como qualquer outra estratégia de negócio. Só uma equipe envolvida e inspirada pode executar a sua visão para o futuro. Certifique-se de que tem meios para revitalizar a sua força de trabalho e motivar os funcionários a colaborar, inovar e dar tudo por tudo.

O tratamento com compaixão também parece produzir líderes altamente eficazes entre os trabalhadores. Como refere o professor de Harvard, Bill George (ex-CEO da Medtronic, empresa de tecnologia médica), “é a mudança do “eu” para o “nós”. É o processo mais importante para os líderes se tornarem autênticos. De que outra forma podem desencadear o poder das suas organizações que a motivar as pessoas para que atinjam o seu pleno potencial? Se os nossos apoiantes estão apenas seguindo a nossa liderança, então os esforços ficam limitados à nossa visão e à nossa direção... Só quando os líderes param de se concentrar nas necessidades dos seus egos são capazes de desenvolver outros líderes”.